segunda-feira, 30 de maio de 2011

SEGREDO DE ÁGUA

Eu quero trazer dessa aguada que brilha
na forma da cor
um beijo de sol na pele de oiro liso
que traz em perfume distante uma flor
de sonho que escalda!
E quero sentir o momento preciso
de paz, que desfolha no tempo, perfeita,
essa maravilha
de verde esmeralda
num lago sombrio!
E depois, partir… pela senda desfeita
por entre caminhos cruzados de mágoa,
transida de frio,
num segredo de água!

MÍSTICA

Que me sagrem as asas de Infinito
num voo mais alto, as bodas luminosas
em seu Auto de Sol
e oiro dos crepúsculos!
Que se cumpra a parábola de sonho
e redenção de luz sobre a minha alma,
sobre o meu coração!
Na mística da paz
e febre criadora,
os meus olhos de musgo abram, no espaço,
a realidade, o brilho das estrelas,
nesse querer de Além!
E as minhas mãos, colhendo a flor de seda,
em ternura e perdão,
num gesto largo afastem, para sempre,
a tentação do mundo
e se cruzem eternas no meu peito!

SEM TEMPO…

Rir, porquê?
Abriram as roseiras
e desfolharam na distância que vivi
intensa realidade!
Olhos pisados de lilazes roxos
afundam na penumbra
pálpebras mortas
sem tempo de as fechar!

Cravos a rir de mim
onde a boca mordeu, em sangue, a luz!
Cantar, porquê?
se grita a fonte a música da sede
que não mata
o cântico dos longes…

Abrem magnólias puras no meu peito
em flores tão de cera que adormecem
cobertas de abandono,
beijadas pela noite…

Chorar, porquê?!
- Nem para tanto sobra o tempo de morrer!

ESTILHAÇOS DE SONHO

Cerro os olhos, procuro, em vão, esquecer…
o sentido cruel desta verdade:
Meu inferno de sombras
que me afoga de horror!
Estilhaços de sonho que me ferem,
sangrando ideias mortas
que o pensamento encarna em outros mundos
perdidos para sempre!
Pavor de um acabar envolve tudo
em pesadelo que jamais acorda
o caos, a derrocada onde me afundo!
Cerro os olhos… procuro em vão esquecer…
mas ficam a boiar
no espelho baço e triste da minha alma!

terça-feira, 24 de maio de 2011

NOVAS ERAS

Meus olhos de poeira abrem no espaço
esfíngicas, sonâmbulas quimeras;
a minha sombra enterro a cada passo
e avanço em novas eras!
Perdido na penumbra, o pensamento
por sobre névoa densa abre clareiras;
como o fulvo reflexo das fogueiras,
ateadas pelo vento,
rasga em visões de incêndio o nevoeiro!
e funde-as em delírio na memória
o todo que era dantes:
no limite vulgar da minha história
que nem tento esquecer: tudo se perde
ante a planície verde
dos meus olhos distantes!
Ultrapassando o curso que foi dado
ao meu espaço vital, impaciente,
não me resigno ao círculo marcado:
Vou além do que a vida me consente!

DELÍRIO

Que vou dar-te? Palavras sem motivo
nos instantes dispersos… seixos de água,
movendo, à transparência da corrente,
ideias afundadas em desânimo!
Que vou dar-te? Inquietante germinar
de sonhos imperfeitos
no céu coalhado e fundo,
nuvens sem rumo…
A minha sombra roxa
e a flor do coração, já quase morta,
a desfolhar-se, triste, em tuas mãos!
Que vou dar-te? Neblinas da montanha
rasgadas nas escarpas dos rochedos,
em pasmo, eterno… o meu delírio azul…
um crepúsculo a arder de encontro à noite
e a minha dor cruzando o teu caminho!

VIDA E MORTE

As roseiras tombaram, longamente,
por sobre o muro velho;
e abriram, de repente,
num sorriso vermelho,
sangrando vida em flor,
nesse musgo doirado
que vestia de rendas,
em pedaços, o muro abandonado,
como um sonho de Amor!
Distâncias que nos lembra, quando passa,
a luz da Primavera,
pela divina graça
de alguém que ainda espera
ver ressurgir um dia ignotas lendas
que a Morte adormecera,
na paz do esquecimento:
Numa doce e tranquila comunhão,
sentir este momento
de eterno simbolismo:
Vida e Morte, no tempo, entrelaçadas,
as roseiras vermelhas sobre o abismo
das sombras… abraçadas,
num doce encontro de Alma e Coração!

POEMAS INCERTOS

Os poemas incertos
em tempos perdidos
foram descobertos
pelos meus sentidos!
Abriram as asas,
levaram o sonho
sobre ideias rasas
que ainda suponho
vestir de poesia:
Desencontros de Alma
que, no dia a dia,
benze a verde palma
da Melancolia!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

OFERTA DE ALMA

Como olheiras pretas,
nos teus olhos de água,
abriste-me a noite que foram teus dias:
Ramo de violetas,
numa oferta de Alma… A tristeza, pago-a
na moeda falsa doutras alegrias!
sem mostrar surpresa,
num mentir suave
que era luz, apenas,
pois seria grave
comungar na sombra que me aparecia,
num gesto, em beleza,
reflori distância… em cravos vermelhos…
que abriram sorrindo sobre as tuas penas,
como sobre espelhos
de melancolia!

ASSOMBRO

Foi preciso que o assombro me tomasse
e um medo atroz tolhesse, de momento,
esta razão estranha de não ser,
para que eu visse
o abismo onde caíra,
onde caíra exangue o meu delírio:
Num inconsciente turbilhão de formas
de agir, de proceder,
acordes dissonantes de incerteza,
em “De profundis” de alucinação,
A crepitar… a arder!

Depois, veio o silêncio
à superfície lisa
estagnar: era um lago
sem arrepios de aragem,
sobre a cratera extinta dum vulcão!

VELAS

Lá foram as velas, riscando no vidro
brilhante das águas
mensagens de luz:
legendas de espuma
num adeus de mar largo!
Das asas marinhas salgadas no ar
vinha uma presença de Terra partindo,
além, mundo fora!
em vez dos meus olhos
que, apenas, ao longe,
trouxeram das algas
vestígios de mar…

CINZA AO VENTO

E cada dia mais! Enterro as ilusões
que vão passando além
na procissão das almas!
Em cada dia surge um mal maior!
Crucificada a esperança, velo
pela Fé que agoniza ao fim da noite
e apaga o amanhecer!
A terra, abre-me a cova negra e triste
sem o lugar da Cruz!

E, ao longe… há cinza, ao vento…

quarta-feira, 18 de maio de 2011

DE OLHOS RASOS DE ÁGUA

Trouxeste aos meus olhos
a vaga indecisa
que a dúvida empresta
na hora precisa.
E arderam restolhos
na seara colhida
numa despedida
de sonho que resta!
Depois, no pousio
abriram papoilas
como lantejoulas
vermelhas! No rio
de pena que escorre
em tempo de espera,
se alguém nos esquece
jamais acontece
outra primavera
no todo que morre.

E fiquei parada
na curva de mágoa
sem flores, sem nada…
de olhos rasos de água!

OS SEM-ESPERANÇA

Vesti-me de mágoa; da mágoa cinzenta
do clima anormal onde a alma, emigrante
de sonho, descansa!
Que a dor não se inventa:
existe … persiste espontânea, constante…
aumenta e se lança
no subconsciente e arrasta, destrói
algum bem, se o há, que resiste ao naufrágio
das vãs alegrias que restam de nós!
Se a alma ferida ainda nos dói,
é só mau presságio
do Além dessa voz,
que chora na era de tudo que passa
e não se detém
na sombra, sequer, daquela encruzilhada,
que o tempo reparte e a hora estilhaça
de encontro ao sol-posto, outro dia que vem,
onde eu não serei outra vez madrugada!

Vesti-me de mágoa, de cinza e de pó!
e sobre o meu peito
desenha-se a cruz
dos sem-esperança:
tão negra e tão só,
sem nenhuma luz…
sem dor, nem lembrança…

DIAS PARDOS

Esses dias pardos
alargam penumbras
em tempos distantes
no meu coração!
(Perfume de nardos,
ainda deslumbras
a minha ilusão!)
Hoje resta, apenas,
sobre o campo triste,
um ramo de penas
que ainda resiste
às ideias mortas
de todos os dias,
entre a poeira e o tédio
das ervas bravias!
Nas frinchas das portas
geme o vento, implora
que o deixe passar …
e vem, lá de fora,
um mal sem remédio
pedir mais lugar!

UM GRITO NA TREVA

Desfalecendo a noite, um grito avulta:
- desesperado apelo em vaga imensa –
que escorre sobre a terra e que se eleva
em agonia, até ao Infinito,
e a que ninguém responde!
Alonga num mistério a densa treva!
ao seu redor, a noite cala, oculta
a sua indiferença
noutro poder mais alto
que a terra apaga e esconde!
Todo o silêncio acorda em sobressalto,
como cristal desfeito,
repercutindo a mágoa desse grito
que rasga, em chaga aberta, no meu peito!
Tonta, em magia negra, a noite absorta,
espera … e o grito ecoa atroz, aumenta!
Quero acudir, saber qual o motivo,
em dor transfigurado, que desperta
as horas e que tange em aflitivo
espanto e implorava em vão…
mas a terra parece estar deserta;
nem vivalma… não resta um coração!
Dilacerante, implora! Eu, quase morta,
existo nessa causa que atormenta…
Vem das asas do Tempo e dura, corta
a paz da noite calma:
Esse pavor aperta-me em seus braços,
alaga em pranto a alma
e afoga a minha voz em outro mundo!
Fortes raízes prendem os meus passos
ao âmago da terra onde me afundo!

terça-feira, 17 de maio de 2011

ASAS PARTIDAS

Trouxeste-me a ideia
gelada do fim
nas asas partidas:
palavras na areia
de penas caídas,
lembranças de mim
além doutras Vidas!
Motivos dispersos
nas algas castanhas
e verdes, ardentes,
de gotas de sangue
num rasto de Morte…
rimando os meus versos
em estrelas cadentes,
em almas estranhas!

A NOITE ALONGA A SOMBRA DE UMA CRUZ

A noite alonga a sombra duma cruz.
E de rastos caminha
e em treva me sepulta!
Emboscada de sombras se levanta
em meu redor,
aperta-me nos Círculos do Mundo…
Nem o punhal da lua
sobre o meu coração!
nem vento que sufoque esta quietude,
onde se enterra a Vida
sem a graça da Morte!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

REZANDO A UMA ESTRELA

Rezando a uma estrela
perdi-me na tarde…
(que o tempo não arde
o meu sonho por ela).
Instantes de seda,
tão leves, rasgados
na lâmina de água
que mal se arrepia
de prata! Poesia
numa labareda
que se tarde esfolha
numa flor de sol
que abriu numa estrela!

PORQUÊ…?

E fico a olhar o mundo de quem passa:
Porquê, meu Deus, só para o que tem penas?
num manto cor de cinza me oferece
a sua dor caindo, em cruz, no espaço
que nos separa ! Ao longo do caminho,
os outros vão seguindo num adeus
de não-querer de alguém que não precisa…
Esse que fica, espera:
um pouco de Alma só, de Coração…
que se resume em cobre negro e triste
que nos humilha e afasta na poeira;
esquivos, nesse orgulho de ser pobre…
logo ausentes no todo que se perde…

FRONTEIRA DE BRUMA

A fronteira de bruma, onde não chego,
fica sempre depois desse limite
que não ultrapassei ! Um desapego
de tudo o que não venço mais transmite,
à minha desistência, uma apatia
enorme de silêncio que me aterra:
Talvez, por indecisa covardia,
me torna a qualquer luta indiferente!
Pasmo das sombras mortas onde caio
em desânimo estéril sobre a terra,
sem o lucro bendito da semente!
É como se um desmaio,
uma inércia imprecisa,
me tolhassem de todo o movimento,
em renúncia total!
Morre-se em vida, assim, sem dar por tal:
Na fronteira de bruma… em sacramento!
Nada chegou a tempo ... Fui morrendo,
Por caminhos dispersos,
Onde a Cruz dos meus versos
Era a única luz resplandecendo!

(Solidão Maior)


Nota: O livro Fronteira de Bruma foi uma edição póstuma, de 1997, da responsabilidade da sua sobrinha Isabel Maria Osório de Sande Taborda Nunes de Oliveira

terça-feira, 10 de maio de 2011

Parabens a você

nesta data florida
Muitas Felicidades
muitos anos de vida

Faz hoje anos Dona Rita
- que dia maravilhoso! –
Não há data mais bonita para a Rita
que este dia luminoso!

Vão todos ao “Festival Dona Rita”
dar parabéns a você
Está pinoca, tão bonita…
e nós sabemos porquê…

Tem ao colo uma boneca
“a Sindy” de fato novo:
num ar levado da breca
dá bons dias ao seu povo.

E oferece chá à gente
com o seu bolo de velas
que assopra logo, imponente,
apagando todas elas!

Viva Viva o Festival
Fica a casa toda cheia
e não falta ao arraial
aquele Dear Rosêia…
Dando ao rabo entra na Festa
dá parabéns a seu modo
e o Dear lambe-se todo
e beija a Rita na testa…!

Viva a Rita
Vivam todos
mais cem anos de alegria
festejando o grande dia!

Se Deus quiser voltaremos
muito em breve, Dona Rita
aos anos do nosso Pipa
que é também um grande dia
de folia que nós temos
Vivam todos – que alegria !
Beijos da Tia Pipita