terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

NÃO QUERO...

Não quero triste murmurar de pena
a lamentar meus passos;
Não quero,
nesta pele morena,
tatuagens de fogo dos teus braços!
Não quero
a caridade que me ofende!
antes a lança erguida
contra a Morte e contra a Vida
quando ninguém me entende...

Não quero
a cruz do desespero,
pesando nos meus ombros;
Não quero
meus olhos desvairados nos assombros
de além-realidade.

Antes me atirem pedras que piedade

domingo, 13 de fevereiro de 2011

É TARDE

É tarde… avisto ainda a minha infância,
em fumos, na distância,
num sonho já desfeito…
e era tarde na minha mocidade
quando eu a vi, ao espelho de Ansiedade,
em medalha de sombra no meu peito!
Nada chegou a tempo… fui morrendo,
Por caminhos dispersos,
onde a cruz dos meus versos
era a única luz resplandecendo!

A MINHA NOITE

Só me encontro na terra abrasadora,
ondulante e perdida…nessa poeira,
onde ajoelho a rezar à Vida inteira,
à Vida que enterrei…
Nessa aridez, sem fim, duma existência
monótona e parada,
minha alma há-de ficar crucificada
em eterno desânimo… e indolência…
A minha noite é sombra aterradora;
Meu pensamento, em seu errar incerto,
é fumo que se perde no deserto…

QUIETUDE

Oh, esta baça quietude morta,
este charco viscoso – espelho triste –
onde nenhuma imagem se recorta:
A vida não existe!

Paisagem neutra, lívida, de sal!
monotonia… calmaria
nem o mais leve respirar…

Antes o desespero que porfia
em nos dilacerar;
Antes a fúria do vendaval!

NINGUÉM

Meu corpo funde-se em poeira espessa,
no cilício doirado dos restolhos!
A cor de azinho, fusca, nos meus olhos
tem reflexos de sol! Que me entonteça
esta vaga mourisca, sonolenta,
em desânimo a arder pela estiagem…
que minha alma sedenta
nos pegos mate a febre da paisagem
e se afogue no tédio que a alimenta!
Esqueça, em horas mortas de «solina»,
a sua humana forma, e acorde, além
do crepúsculo em fogo que a domina,
e onde será: Ninguém!

PRESENÇA

Não sinto, não respiro a Primavera
e ela voltou de novo!
Ergueu-se da penumbra
e sacudiu a farta juba de oiro:
doida menina despertando
em sobressalto
e a quem a vida inteira não sorriu!
Faltava-lhe beleza natural,
qualquer coisa exigia uma presença
que não acompanhara a sua imagem…
Mas foi a Primavera
que não realizou essa presença
ou sou eu que jamais hei-de senti-la?

ENCRUZILHADA

Encontrei-me naquela encruzilhada,
em que a Vida e a Morte se confundem
num momento: e ali fiquei à espera!
Indiferente,
um acaso levou-me na poeira
o pensamento inerte
que se erguera do chão, onde se enterra,
parada, a minha ideia,
e onde a Vida corria na confusa
imagem do poente que findara…
A Morte era o principio:
luz eterna, translúcida alvorada!

VALE DE SOMBRAS

Vale de sombras, sonolência,
na quietude das horas:
É tudo em nós ausência,
penumbra,
vida morta que passa pelo Tempo
sem nos deter;
sopro de pó
no turbilhão disperso de viver;
selvagem desespero;
uma angústia parada
de estar só…
que para além de tudo
é nada…
Evocação de esparsos sentimentos,
triste irmã da Loucura…
um gesto que se perde em pensamentos…
um grito que se apaga em noite escura!

LABIRINTO

Eu nunca me encontrei… Num labirinto
de imagens e de assombros fui dispersa
em pensamentos vãos…
Nas minhas mãos
há uma sina diversa
que aumenta a grande dúvida que sinto
no meu cismar!
Ideia movediça e inconstante
como vaga do mar,
onde a paisagem muda a cada instante !
E tudo em mim se perde e transfigura,
cada passo é contrário ao meu desejo:
se o que eu achara bem era loucura,
hoje, tudo que é mal, já nem o vejo!

Desfolham-se na sombra dolorosa
e, em desencontro surgem, de momento,
as ilusões de outrora…
como vaga de pétalas de rosa,
à luz de aurora,
trazidas pelo vento!
Estrelas fúlgidas a abrir,
em relâmpagos de oiro pelo espaço
de um pensamento ao outro: revoada
de sensações ainda por sentir,
miragens que desejo ou despedaço:
desencontros em mim, ao longo da jornada!

TUDO QUE É MORTO…

Quis apagar em parte a minha vida
como se apaga o giz dum quadro negro
para escrever de novo!
A mão incerta… o pensamento
em louco desatino,
nas ideias confusas de momento…
Mas, o que estava dantes,
gravara-se na pedra
que é hoje o que já foi meu coração:
jamais se apagará!
Só o que tento agora
escrever e mentir, no quadro negro,
um sopro desvanece para sempre…

Tudo que é morto não ressurge em nós;
apenas o dorido pensamento
nos procura iludir…

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O RESTO… FOI ACASO…

Meu coração, no Tempo, há-de ficar
ensanguentando a terra de amargura!
Hão-de vê-lo brilhar na sepultura,
num eterno esplendor,
como um rubi, ao sol, a crepitar
de luz e amor!
Só a terra me quis: e eu compensei-a:
entreguei-lhe de todo o coração
e a minha vida inteira! grão de areia,
a querer reflectir uma epopeia
que se apagou no chão!
O resto… foi acaso… mal ou bem…
sonho… desilusão…

Passei na vida, apenas,
sem quase dar por tal !
Meu sumptuoso manto era de penas…
e trazia no peito uma flor de cristal
que não dei a ninguém:
enorme e singular amor-perfeito,
que logo se quebrou em mil pedaços
e se enterrou na poeira dos meus passos

Vim dum Além desconhecido…
só encontrei a terra à minha espera,
a terra onde arrastei a minha cruz,
que não soube elevar… mal-entendido,
entre sombras e luz,
realidade e quimera!

Fui árida paisagem, sede de água…
sem lágrimas, gritei ao chão, ao arvoredo,
esta angústia sem nome,
este mal que me fere e me consome…
Só a terra entendeu a minha mágoa
E guardou no silêncio o meu segredo!

CANTILENA

Que desperdício de Vida
fui deixando na distância
da minha vida parada…
da minha vida negada
já desde os longes da infância!

De encontro à esquina da Vida
quebrou-se a taça florida
do meu vinho transparente,
ambarino e reluzente,
que se entornou de repente!
Ficou na cinza apagada
a parte que me cabia:
o rescaldo da queimada…
sabor de melancolia!

Que desperdício de Vida,
a divagar, sonolento,
nos voos tristes do vento,
por campos vãos de abandono,
ante a minha alma dorida
que se arrepia de Outono!