quarta-feira, 16 de junho de 2010

Deusa da Planície

Minha alma é a Deusa triste da Planície:
Pressinto em mim a sua forma estranha!
Sem querer, sem pensar, ela mo disse,
Como lenda remota me acompanha!
A palpitar de vida, no meu peito,
Eu trago ainda o coração da Terra:
O barro, no meu sangue, foi desfeito…
Toda a planície a minha vida encerra!
Até o pó da estrada se levanta,
Querendo-me beijar!
Tudo em redor de mim, sorrindo, canta,
Sentindo-me passar!

Sombras, que a tarde doira, nesta hora,
Vinde chorar comigo!
(É tão grato saber que alguém nos chora,
Além, nos olivais…à flor do trigo!)

Se rio, sinto em mim o sol doirado…
Que fantasia louca!
Deixando-me o sabor apaixonado
Dum beijo ardente sobre a minha boca!
Se choro! Mãe do Céu…a sombra escura
Desce da noite, envolve-me em seu manto,
E a tempestade, cheia de amargura,
Afoga-me num pranto…

Sentimento de sonho que me invade?
Amor que a Terra trouxe?
Ressurjo, nesta hora de saudade,
Tão vaga e doce…

Quando eu morrer, a terra há-de sentir
O bem de recolher-me nos seus braços,
E sobre a campa rasa hão-de florir,
Nessa hora desfeita de cansaços,
A urze triste, a giesta desgrenhada…
E, à sombra do crepúsculo, diluído,
Virá ungir-me o pranto da geada!

Hão-de chamar por mim, naquele sono,
As rubras tardes de oiro que eu cantei;
Eterno apaixonado, o belo Outono,
Virá trazer-me os beijos que lhe dei…

E hão-de as tardes chorar-me, a recordar
Como outras primaveras me esperaram!

E, encarnando as saudades que ficaram,
A Deusa da Planície há-de voltar…

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