quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ANOITECER

Ao Roberto
Rendas negras, em múltiplos recortes,
o arvoredo desenha sobre o fundo,
que sangrava fogo ardente, de tons fortes,
sobre a curva do Mundo!

É de cristal o Céu, na transcendência
do lusco-fusco mágico da hora:
desde o vermelho ideal à doce transparência
dum hálito de luz que se evapora!

Reclina-se, dormente, na penumbra
a Serra de Ossa, em vaga ondulação:
respira a luz da hora que deslumbra,
e tem o palpitar dum coração!
Um véu lilaz da infinda suavidade
cobre o seu corpo que descansa na planura…
Tudo é melancolia, soledade,
tudo outra vida, outra ilusão, procura!

E, mística e pagã,
cintila a grande tela do sol-pôr!
É rubra como os bagos da romã
são rubros, bárbaros de cor!
De tudo se desprende
um não sei quê de bíblico e selvagem…
minha alma se surpreende
a falar com as sombras da paisagem,
a compreendê-las…

Absortas, nascem, como em sonho, estrelas…

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