quarta-feira, 24 de novembro de 2010

AS LÁGRIMAS DO ÁRABE

Ao Roberto

Quando o árabe entrou na Catedral,
a par de si, o Tempo ajoelhou,
e doce auréola sobrenatural
a sua fronte deslumbrou!
Retrocedendo séculos distantes,
viu a Mesquita aberta, em horas calmas,
sem pórticos de sombra, - como dantes
era a casa de Deus, à luz das almas!
Aquela arcada imensa, perspectiva
dum cenário imortal de tempos idos,
ressurgia, na forma primitiva,
como que alucinava os seus sentidos!
A sua veste, na penumbra,
mìsticamente branca se quedara…
e eis que toda a sua alma se deslumbra
Ante a visão do Tempo que passara!
E os seus olhos arrasam-se, distantes,
de lágrimas e luz de áureos instantes!

E, nesse dia, a Catedral recebe
meditações e preces diferentes:
Para Jesus, no apelo dos seus crentes…
E para Alláh, no rito de Mogreb!

Córdova, Outono de 1950

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