sexta-feira, 26 de novembro de 2010

SEVILHA

Eras tão minha sem te conhecer,
Sevilha ardente: como se te vira,
no meu desejo imenso aparecer,
em bela flor de sol estremecer,
num surpreendente céu, cor de safira!

Em tuas mãos, o leque de mil cores:
cravos, bailados, toiros, «alegrias…»,
e, sobre o coração, altos fulgores,
incêndios desvairados de esplendores,
jóias de Virgens, loucas pedrarias!

Tuas músicas vibram, luminosas,
em lantejoilas de oiro, palpitantes,
em carne rubra, cálida, de rosas…
mas, choram sempre, em notas dolorosas,
o «cante jondo» e a alma de Cervantes…

Debruças-te, convulsa de paixão,
sobre a arena, onde tudo é sonho e Morte!
Pelo «traje de luces» da Ilusão,
arrancas do teu peito o coração:
é para quem te consagrou a «sorte…»

Oh maga terra em fogo: a tua vida
é feita dum sentido deslumbrante,
de inquieto crepitar de chama erguida,
de essência de jasmim, enlouquecida,
de ruivo sonho que delira, estuante!

Envolve-me na luz, que se incendeia
de amor, em tua graça de morena:
Ah, deixa-me perder na maré-cheia
dessa alegria que tão alto anseia,
Oh Sevilha da Virgem Macarena!

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