sexta-feira, 26 de novembro de 2010

SACRO MONTE

Dum jardim, todo em flor, da Alhambra enfeitiçada,
contemplo o Sacro Monte…
e, a minha alma, na alma de Granada,
nesta hora de penumbra,
é uma chama a crescer, a palpitar de Vida,
a doirar o horizonte:
borboleta a queimar-se, entontecida,
no próprio sonho alado,
em que volteia, em que de espanto se deslumbra…
Um outro eu, distante, alheio e vago,
acorda, esparso em tudo,
na tarde que é um afago
de sombras de veludo,
de cinzas do Passado!

Oh Granada, que os ventos do Levante
abrasam de paixão… Oh incendida
miragem delirante,
no deserto sem fim da minha vida:
venho de longe… andei como a penar,
de ermo em ermo, na incerta caravana…
nem sei o que te conte
de mim, desta minha alma de cigana,
que volve, de saudosa, ao Sacro Monte,
a chorar, a sangrar!

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