terça-feira, 19 de outubro de 2010

ALMA ERRANTE

A Urbano Rodrigues
A estranha alma insondável da Planície,
qual misterioso encanto da lonjura,
enigmática paira à superfície,
numa espécie de cisma e de crendice,
que não se encontra aonde se procura!

Estremece, palpita, na distância;
seu vivo sortilégio me domina;
pressinto-a no fulgor da minha infância…
num misto de ansiedade e de inconstância,
brilha nos versos meus, em cada rima!

Não se dá, mas impera em nossa vida!
Sua presença atrai, indecifrável,
e, assim, tão desejada e proibida,
assombra, em sua forma indefinida…
esfíngica, mantém-se impenetrável!

Ela adeja na aragem que flutua,
nos alqueives dormentes, nos restolhos,
no pôr-do-sol, na palidez da lua,
na flor de esteva que, em perfume, estua,
e na tristeza imensa dos meus olhos!

Ela pertence a todos e a ninguém!
Certas noites, de sombras desgrenhadas,
piedosa, na minha alma se detém…
e, logo, parte…e, já desvaira, além,
toda de oiro, na chama das Queimadas!

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