quarta-feira, 13 de outubro de 2010

EU

Eu vivo para além da fita azul,
que o Tejo marca a luz, nas solidões
sagradas, onde a voz do vento sul
soluça, entoando cálidas canções!
E da vasta amplidão, de sonho enorme,
o áureo limite funde-se no Céu,
conforme
seu coração no meu!

Oh minha terra, cismas revolvendo,
absorta e muda, horas sem fim:
só a falar de ti é que me entendo,
porque é falar de mim!
Minha alma estranha reconhece
Que é só por ti que sente e sonha e se engrandece!
Errante, te procura,
sangrando de amargura…
Comungo em tua mágoa,
oh terra ardente;
anseio a gota de água,
deleitosa, que mata a sede á gente!

Mas sei, também, viver as tardes calmas
da tua graça, a desfazer-se em luz,
quando embalas, sorrindo, as nossas almas,
e anuncias milagres de Jesus!
Sentir a paz, o sol duma alvorada,
é como pressentir o próprio Amor!
(Já tudo, em derredor),
é luz abençoada!)

Eu vivo para além da fita azul
do Tejo, nas paragens de tristeza
dos estevais… Selvagem flor do Sul,
encarno em Natureza!

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