quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SIGNOS AMARGOS...

A vaga humana alastra, sinuosa:
ao longo da planície, é sombra imensa,
que, por escura via dolorosa,
vai lavrando enigmática sentença…
O sol banha de sangue a hora adormecida,
numa indolência moira… e a vaga espera…
mais outro dia igual, que vai matando a Vida…
uma angústia em que tudo se exaspera!
Nova expressão nos plainos infindáveis:
triste mancha sombria…
Signos amargos pairam, insondáveis;
uma revolta muda se anuncia!

Crise rural! Minha alma sofre e chora,
ante a visão de estranha realidade,
que me apavora,
que me traz em alarme de ansiedade!
A vaga aumenta:
em roxo escuro de tormenta,
em sua dor calcada e surda e bem humana,
enluta a vastidão da terra alentejana!

Eu, que pertenço à raça nobre e forte,
beijada, sol a sol, de luz ardente,
que nunca teme a Vida nem a Morte,
não reconheço a calma resignada,
a humilhante amargura
que me tortura,
porque a forma de ser da nossa raça
jamais se curva a quem por ela passa!
Irmã da terra mística e fremente,
eu sinto essa tristeza de agonia,
sinto-a em revolta duma angústia atroz,
porque ela, a terra, é nossa, e o pão de cada dia,
em nome de Jesus, pertence a todos nós!

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