terça-feira, 9 de novembro de 2010

«DE PROFUNDIS»

Dobram sinos de bronze, pelo espaço,
ecoa o «de profundis» num lamento,
o sol empalidece, triste e baço…
é o Estio a morrer, a cada passo,
a enterrar-se na luz deste momento.

A Terra veste cor de cinza escura;
nuvens toldam o ar, tornando-o espesso!
Há luto roxo em notas de amargura…
E tudo a sombra cobre e transfigura;
pressinto a Morte… e, lívida, arrefeço!

O Estio despediu-se, de repente!
(Adeus, oiro! Adeus, fogo purpurino!)
Despiu seu trajo rubro, incandescente…
como fogueira enorme, ao sol-poente,
ardeu na própria luz do seu destino!

Foi-se adensando a sombra no arvoredo,
desceu, desceu a noite silenciosa…
Résteas de sol ficaram em segredo
sobre as últimas rosas, quase a medo,
velando, em quietude religiosa…

Hora lilaz de místico abandono
envolve a campa enorme da Planura,
onde o Estio repousa em calmo sono…
A luz que anda nos céus é já de Outono,
insinua-se em nós, magoada e pura…

Mãos esguias de sombras o enterraram,
cobriram-no de poeira folhas mortas!
longamente, piedosas, o embalaram…
Em sinal das saudades, que ficaram,
cerra mais cedo a noite as suas portas!

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