A minha Irmã
Seguimos, ambas, pela estrada fora,
e lado a lado, como antigamente;
contudo, a vida hoje é diferente
dessa vida de outrora.
Nós mudamos, também…
(de criança a mulher vão tantas penas…!)
Tu, mais feliz do que eu, mulher e mãe,
eu só mulher apenas…
Mas, olhando a distância do passado,
sinto-o perto de nós,
talvez por caminhar, sempre a teu lado,
ouvindo a tua voz…
Tudo ficou assim do que era dantes,
nesta moldura amiga,
e os outros tempos, que lá vão distantes,
conservam, para nós, a graça antiga…
A mesma casa, em volta,
o cenário que sempre conhecemos…
(Triste, o silêncio, solta
lamentos das saudades que nós temos…)
Foi nesta rua, à sombra dos lilazes,
que se passou a nossa vida inteira;
agora, como nós, os teus rapazes
continuam a nossa brincadeira!
A tua filha és tu! Como quem sonha,
cerro os olhos um pouco,
e, ao vê-la, assim risonha,
(que pensamento louco!)
volto a ser o que fui antigamente!
(não são, pois, as crianças
que envelhecem a gente,
só nos vêem trazer doces lembranças!)
Que miragem tranquila!
Oh meu Deus, quem me dera,
sempre, sempre, senti-la,
num doce reflorir de primavera!
Como tudo é igual nesta saudade:
o perfume dos campos,
o som, a claridade,
e até, à noite, os mesmos pirilampos,
na relva do canteiro!
tudo, nesta saudade, recordamos!
Eu quase chego a crer que o mundo inteiro
desejara sonhar como sonhamos!
E seria tão bom que este ambiente
se conservasse calmo até ao fim:
nós, tranquilas, à espera do poente,
na sombra do jardim!
Envelhecer assim,
será mais doce;
nem daremos por tal,
porque o nosso passado iluminou-se,
como antigo vitral…
Que importa se mudámos?
Nesta hora,
embora a vida seja diferente,
seguimos ambas pela estrada fora…
Pudessemos segui-la, eternamente!
(Nota minha: o "cenário" é o mesmo daqui e daqui)
Estórias do autor
Há 4 dias
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