sexta-feira, 12 de novembro de 2010

VISÃO DA ARRÁBIDA

Ao Professor Francisco Gentil

A paisagem que avisto é uma aguarela calma…
Em sua plácida beleza,
extasiada, transmite à nossa alma
a dádiva do Céu à Natureza!
Não se procura: vem, suavemente…
entrega-se, confiante;
dentro da gente,
fica a florir… é doce, instante a instante!

Ah, como eu sinto o bem da sua imagem:
abranda esta crueza, chama à Vida
meu revoltoso espírito selvagem!
Minha alma que se afoga, ennoitecida,
acorda ao resplendor desta visão
de imensa claridade…
e eu ergo para Deus uma oração…
e é todo puro o sonho que me invade!

A Serra beija o Céu, direita, a prumo,
e vai lançar-se ao mar que espuma em rendas…
Nos longes, há distâncias quase em fumo,
e o mar tem arabescos de legendas,
rimas de luz
de Agostinho da Cruz…
e pairam, num enlevo,
contas do seu rosário, em versos brandos,
que o Tempo anda a rezar, à flor do trevo:
pombas brancas sem fel…suaves bandos…
Do Céu azul, de seda transparente,
tomba divina unção que envolve tudo!
O sol é oiro quente…
os vastos pinheirais são de veludo,
as velas são papel rasgado ao vento,
sobre o mar de esmeralda e superfície lisa…
E este momento
parece eternizar-se… em sonho cristaliza!

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